Bolsonaro prenuncia tormenta militar em reação à vitória do Haddad.

Mesmo em recuperação hospitalar que recomenda cuidado parcimonioso, Bolsonaro gravou vídeo de 15 minutos para disseminar nas mídias sociais.

Nele, Bolsonaro passou recibo da vitória do Haddad na eleição de outubro e reconheceu, implicitamente, que poderá ser derrotado já no primeiro turno.

Mais que fazer prognóstico eleitoral, contudo, Bolsonaro gravou o vídeo para prenunciar uma tormenta política e institucional que os militares parecem dispostos a provocar em caso de vitória petista, que é tida como líquida e certa em todas as pesquisas.


Bolsonaro repetiu a versão estapafúrdia que tem sido propagada por lideranças militares ligadas a ele, de que o PT fraudará a apuração da urna eletrônica [sic] para garantir a vitória do Haddad que, eleito, soltaria Lula e o nomearia ministro da Casa Civil.

O desatino do Bolsonaro poderia ser catalogado como delírio puro, é verdade, mas em nenhuma hipótese pode ser subestimado, porque revela a existência do sentimento e do intento real dos segmentos conspirativos atuantes no meio militar.

A mensagem do Bolsonaro deve ser entendida como de fato é, ou seja, como prenúncio de um movimento perigoso que tem o propósito de tumultuar o já conturbado ambiente político e institucional do país para legitimar a entrada em cena das forças armadas.

A posição do Bolsonaro [e do seu vice Mourão] coincide com as manifestações de setores da oficialidade que apregoam abertamente a assunção, pelas forças armadas, de funções políticas e institucionais que não encontram amparo na Constituição do Brasil.

Neste rol de insubordinados está, por exemplo, o Comandante do Exército, que prometeu desrespeitar a soberania popular se a eleição de outubro confirmar a eleição de um petista. O militar que no vizinho Uruguai ocupa cargo homólogo ao Villas Boas ficará detido por 30 dias, e por infração disciplinar menos grave que a cometida pelo general brasileiro.

No programa Painel apresentado pela Globo News no sábado, 15/9, o general Luiz Eduardo Rocha Paiva expôs com assombrosa naturalidade opiniões militaristas e também defendeu abertamente a implantação do poder militar.

O planejamento do establishment deu errado. Fracassaram todas as tentativas de assassinar politicamente e eleitoralmente Lula e o PT, realidade que representa risco de sobrevivência para a ditadura Globo-Lava Jato e para a continuidade do golpe.

São cada vez mais notórios os sinais de que o establishment não aceitará o resultado das urnas, e que está disposto a lançar mão de qualquer método de sabotagem e tumulto, mesmo que isso signifique adicionar o componente militar ao regime exceção.

A eleição do Haddad, antes de significar o início da restauração democrática no Brasil, poderá inaugurar um período de conflito social e de instabilidade política de altíssima intensidade, equiparável aos momentos dramáticos de crise como os enfrentados por Getúlio, Jango e Dilma.

É preciso haver, desde logo, um grande empenho nacional e internacional em defesa da democracia e do Estado de Direito e frontalmente contra a adoção de qualquer saída militarista no Brasil. A OAB, o ministério público, o judiciário e o Congresso têm a obrigação de tomarem imediatamente as medidas legais e institucionais para evitar a concretização desta tragédia anunciada.

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